Por Francisco Bicudo
A entrevista veiculada pelo “Domingo Legal”, do apresentador Gugu Liberato, com supostos membros do Primeiro Comando da Capital (PCC), e exibida pelo SBT em mais um lance da guerra pela audiência que marca os domingos da televisão brasileira, reacendeu o debate sobre a qualidade da programação exibida pela nossa telinha. Além disso, voltou a colocar em cheque também a responsabilidade social exigida de veículos que são privados, mas que dependem de concessão pública – e do cumprimento de determinados preceitos – para funcionar.
Vale ressaltar, para não cometer injustiças ou determinar veredictos apressados, que a tese da armação e da fraude – o tal representante do PCC não passaria de um funcionário da própria emissora – ainda estão sob investigação das instâncias judiciais competentes, sem parecer final até o momento. Mas, caso seja mesmo confirmada, daria ao SBT a condição de desafiar para uma triste competição o repórter Jason Blair, aquele que trabalhava para o “The New York Times” e que ficou famoso pelo mundo afora por fabricar histórias e inventar fontes, depois publicadas como se fossem “matérias jornalísticas”, a expressão mais acabada da verdade. O desserviço que esse tipo de prática causa à sociedade é incalculável. Perdem os telespectadores, privados de discussões socialmente relevantes e de informações consistentes e bem apuradas; perdem os jornalistas, que vêem sua credibilidade arranhada; e perde também a televisão, que passa a ser satanizada e encarada como uma das responsáveis por todos os males da humanidade.
Alto lá. É justamente nesse ponto que o bom senso deve entrar em campo, para auxiliar na difícil tarefa de separação do joio do trigo. Afinal, se é urgente a exigência de mudança de padrões éticos de nossas emissoras, capaz de rechaçar o show e o espetáculo sensacionalistas, preocupados exclusivamente com as emoções mais primitivas e os números do ibope, é verdade também que não se deve confundir o veículo televisão com o uso que se faz dela.