
Miguel Urbano, Faro, João Guilherme e Demétrio Magnoli (da esquerda para direita) durante o debate no SINPRO-SP
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O jornalista parte do princípio de que o novo contexto internacional obriga os Estados Unidos a reorientar sua política externa, e o alvo principal do recente expansionismo norte-americano passa a ser o Oriente Médio. O discurso que procuram vender diz que é preciso levar a democracia a povos tiranos e atrasados. Urbano cita o Iraque, o Afeganistão e a Palestina como as três principais vítimas dessa política, e lembra como os Estados Unidos recorrem até mesmo à tortura, às mortes de civis e prisões arbitrárias para fazer prevalecer seus interesses políticos, econômicos e estratégicos. Para ele, na luta de Davi contra Golias, o povo iraquiano cumpre, neste momento, um papel de resistência semelhante ao que foi cumprido pelos vietnamitas, na década de 60. “Eles se batem pela humanidade”. Polêmico, garante que essa é uma guerra perdida para o imperialismo de George W. Bush. “Não se sabe quando ela vai acabar e qual será a saída. Mas essa guerra está perdida”.
Em sua análise, o jornalista português – autor de livros como “Nômades e sedentários na Ásia central” e “O tempo e o espaço em que vivi” – não esquece de colocar no tabuleiro dos interesses norte-americanos a América Latina, embora destaque que, na atual conjuntura, a região é uma espécie de prioridade secundária para os Estados Unidos. Também em nosso continente as atenções estariam voltadas para um triângulo – e seus vértices seriam formados por Cuba, Colômbia e Venezuela. A ilha de Fidel Castro representa historicamente a grande pedra no sapato do vizinho do norte. “Tem uma imagem simbólica ainda muito presente”, destaca Urbano. Segundo ele, a pequena ilha conseguiu equacionar direitos mínimos, como saúde e educação, que garantem a dignidade humana. Há 45 anos é um exemplo concreto – e muito próximo – de que propostas alternativas de sociedade são possíveis. “Lá, o povo constrói o seu futuro. Isso é intolerável para os Estados Unidos”.