Chamando o público à reflexão, ele lembrou que, logo após o ataque às torres, a população de diversos países do mundo saiu às ruas para comemorar. Reafirmando que não estava dizendo que esses comportamentos seriam os adequados ou desejáveis, Ali disse que estava mais preocupado em tentar entender os porquês dessas reações. “Acho que é uma resposta da fraqueza e do desespero. Aquelas pessoas estavam dizendo ‘bem, nós não podemos mesmo ir até lá e atacar os EUA; então, é muito bom que aqueles caras tenham feito isso’. Ao defender o individualismo absoluto e em todas as esferas, o neoliberalismo nos faz esquecer da força que temos quando pensamos em agir de maneira organizada e coletiva”, lamenta.
O escritor paquistanês não conseguiu escapar das perguntas sobre o conflito árabe-israelense. De novo enfático, direto e objetivo, ele afirmou que a única solução possível e viável para os problemas da região é a criação imediata de um Estado palestino independente e soberano, exigindo de Israel que observe e respeite as fronteiras estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1967. Para ele, o que não se pode aceitar é que os palestinos vivam em áreas dominadas pelos israelenses, ou em aldeias dispersas e distantes, ligadas por estradas. “Isso é ainda pior do que os guetos criados pelo regime do apartheid, na África do Sul”.
Curiosamente, antes de passar pela Bienal de São Paulo, Tariq Ali esteve nos Estados Unidos, também para o lançamento do livro. Ao contrário do que esperava e imaginava, a recepção foi bastante calorosa. Afinal, segundo ele, não se deve esquecer que há norte-americanos dissidentes e contrários ao imperialismo de Bush. De certa forma, essa parcela da sociedade teve de se manter calada depois do 11 de setembro. “Agora, o astral está mudando nos EUA. E essas pessoas estão se perguntando: até quando? Será que essa é uma guerra sem fim?”.
Serviço
“Confrontos de fundamentalismo – Cruzadas, jihad e modernidade”
Tariq Ali
Editora Record
479 páginas
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