Há um detalhe importante nessa história, muitas vezes não revelado, e que acaba recebendo importância menor do que a devida. Atualmente, os árabes da Palestina são consensualmente chamados de palestinos, e esse é um conceito aceito ampla e internacionalmente. Acontece que essa noção de povo palestino nasce justamente com a fundação do Estado de Israel. Originalmente, os habitantes da região – que era uma espécie de província da Grande Síria, pertencente ao Império Turco-Otomano – eram chamados apenas de árabes da Palestina. E essas pessoas não se viam como um povo distinto dos árabes de todo o restante do império. “É a criação de Israel, em detrimento à posse histórica da região pelos árabes, que lança o ideário do povo palestino, que até então não existia, até porque não fazia sentido existir”, conta o geógrafo e professor da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP), Nelson Bacic Olic.
É, portanto, a repulsa ao Estado judaico que começa a unir a população da Palestina. A partir de 1949 – data da derrota na Guerra de Independência de Israel, que os árabes por sua vez chamam de “A Grande Catástrofe” –, a noção de pertencimento a uma nação sem território vai se aprofundar entre os palestinos. Durante as décadas de 50 e 60, grupos como Hammas e a Al Fatah, dentre outros, começam a surgir, exigindo a reconquista da região. Em 1964, essas mesmas organizações fundam, juntas, a Organização pela Libertação da Palestina (OLP). Mas é entre 1968 e 1969 que a figura de um líder carismático começa a despontar na OLP e a fazer diferença na briga pela posse e criação da Palestina.
“É Yasser Arafat. Um líder natural da causa palestina. Ele conseguiu personificar e dar voz à luta dos palestinos. É o pai do Estado Palestino”, diz Rudzit. “É com a ascensão dele que aquela noção de povo acaba de se calcificar entre os palestinos. A figura de Arafat é a própria figura do Estado palestino, habitado pelo povo palestino”, completa Bacic Olic. Durante os dez anos seguintes, Arafat esteve à frente da OLP e, inspirado pelas idéias nacionalistas de Gamal Abdel Nasser, ex-presidente do Egito e maior idealizador do Pan-Arabismo, ainda na década de 50, foi intensificando a idéia e a luta pela nação palestina. Essa época é também marcada pelo início da resistência armada – que os israelenses vão imediatamente classificar de atentados terroristas.
“Arafat é uma figura controversa, como quase todos os líderes carismáticos. Dependendo do ângulo de análise, ele pode ser considerado um terrorista ou um pacifista”, explica o pesquisador do NAIPPE. O terror se coloca como opção de luta mais fortemente até o início dos anos 80, quando Arafat muda lentamente o discurso e passa a não mais sugerir a destruição do Estado de Israel, mas a negociação com o país.