O senhor falou em mamíferos e dinossauros. Essa convivência era pacífica?
Não exatamente. Podemos dizer que mamíferos e dinossauros coexistiam com muito cuidado. Eles competem sim, e os mamíferos, mais bem adaptados, aos poucos vão ganhando a batalha. A verdade é que os dinossauros eram devastadores. Aonde eles chegavam, arrasavam a floresta. Eles eram muito grandes e, por isso, tinham que comer muito também. Aí as árvores começam a produzir espinhos e até venenos para tentar se defender. E conseguem. Os mamíferos não precisavam comer assim, por isso tinham mais alimento a seu dispor. O que levou ao colapso dos dinossauros então, na verdade, foi isso. Um descompasso entre seu tamanho e o material alimentício. Eles devoravam e destruíam tudo, então não sobrou nada para eles.
Acho que atualmente conhecemos uma espécie bem mais jovem e diferente fisicamente, mas que percorre uma história de devastação da natureza tão parecida...
(Risos) Se você está falando dos homens, acertou. A beleza da paleontologia é essa. Vamos estudando a evolução das espécies, entendendo o que houve com determinados animais, para poder pensar sobre nós mesmos. Somos uma espécie da natureza, como outra qualquer. Dependemos do meio ambiente, estamos ligados a ele. Então, se a gente agir como os dinossauros, vamos acabar exatamente como eles.
O Brasil teve bastantes dinossauros? Isso está gravado nos fósseis?
Olha, uns pesquisadores dizem que sim, que basta procurar para encontrar os fósseis. Outros dizem que não. Mas nós temos encontrado fósseis de invertebrados e de vertebrados, entre eles insetos, invertebrados marinhos, peixes, ouriços. De invertebrados, a região do Rio Grande do Norte, e do Nordeste todo, é rica. São moluscos, estrelas do mar, polvos e lulas muito antigos, que até tinham conchas, além de vermes, anelídeos e bichinhos microscópicos do plâncton. Depois temos os vertebrados, como jacarés, tartarugas, animais voadores, peixes e os dinossauros e, a partir do período Cenozóico, encontramos os mamíferos. A região que chamamos de Bauru, no estado de São Paulo – onde ficam as cidades de Marília, Presidente Prudente e etc... - e o Triângulo Mineiro são estudadas desde 1947. Aliás, o primeiro dinossauro brasileiro foi encontrado nessa região, na cidade de Colina.
Então o Brasil não está atrás dos outros países quando o assunto é Paleontologia?
A Paleontologia existe há pouco mais de 200 anos. E quando ela surgiu no mundo, nasceu por aqui também. Quando Dom João VI veio para o Brasil, em 1815, trouxe junto com ele veio colaborador da corte que já coletou fósseis em Minas Gerais. Então nossa Paleontologia é grande e antiga. E antigo também é o contrabando desses fósseis. Desde 1817, os nossos fósseis já são roubados e vendidos no exterior.
O senhor afirmou recentemente que o único consolo é que, pelo menos, esses fósseis vão parar em algum museu do mundo para serem estudados.
É verdade. Sempre acabam em algum museu. Mas a gente quer que sejam museus daqui do Brasil, né? Porque a Paleontologia não é só importante para achar dinossauros. Ela ajuda a entender a História e a projetar o futuro do homem. Também tem participação na Economia, porque mostra onde está a concentração de minerais e, de novo, aquela história de que o homem não é separado da natureza. A Paleontologia é uma espécie de censo do subsolo nacional.