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A crise do governo Lula e os (des) caminhos da esquerda

Por Francisco Bicudo

Os depoimentos e documentos reunidos pelas Comissões Parlamentares de Inquérito em funcionamento no Congresso Nacional não apenas revelam as mazelas e engrenagens de um sofisticado esquema de corrupção, nem atingem apenas o governo Lula. Em debate, está o próprio futuro do pensamento e das forças (partidos políticos, movimentos sociais) de esquerda no Brasil. Vale a explicação: assim como conceitua o filósofo italiano Norberto Bobbio, são chamados aqui de esquerda os atores e organizações que acreditam que as contradições sociais não são “naturais”, mas conseqüência de opções e de projetos políticos e de relações de poder que concentram e excluem; é possível, portanto, agir para alterar esse “estado das coisas”. São as chamadas forças progressistas, transformadoras, que acreditam nas mudanças conjunturais e estruturais, reafirmando valores como solidariedade, coletividade e justiça social.

Desde a posse, em janeiro de 2003, as inflexões conservadoras feitas pelo governo Lula nas áreas política, econômica e social já colocavam o pensamento de esquerda na defensiva. Afinal, o ex-metalúrgico, símbolo da esperança e da mudança para 53 milhões de eleitores-cidadãos, dedicava-se não apenas a manter, mas principalmente a aprofundar os fundamentos do projeto neoliberal em curso no Brasil desde a década de 1990, aproximando o Partido dos Trabalhadores, em termos de projeto, de todos os seus antecessores. Não se manifestava a ruptura – pelo contrário, a continuidade passou a ser a palavra de ordem. Na esteira do descrédito ideológico, as denúncias de corrupção serviram para implodir o pilar diferencial que ainda restava ao PT: o patrimônio ético do partido.

Atônitos e indignados, antigos militantes, pesquisadores, intelectuais e cientistas políticos procuram respostas para dúvidas que trazem agonia e preocupação: diante do fracasso político e ético do governo Lula e do PT, qual o futuro das esquerdas no Brasil? Haverá espaço, no curto prazo, para novas experiências progressistas, populares e transformadoras? Como e por onde recomeçar?

Para estimular o debate, o SINPRO-SP reproduz quatro artigos originalmente publicados pela Agência Carta Maior. Os textos servem como instigantes instrumentos de incentivo à reflexão – e podem inclusive ser usados em sala de aula. Para o teólogo Leonardo Boff, “apesar das traições e fracassos, as bandeiras suscitadas pelo PT já há 25 anos devem ser defendidas. Não por serem do PT, mas porque valem por elas mesmas, por seu caráter humanitário, ético, libertador e universalista”. Boaventura de Souza Santos, sociólogo e professor da Universidade de Coimbra, acredita que “o problema central da esquerda brasileira é de saber se o pós-lulismo será também o pós-petismo”. No terceiro texto, o economista Paul Singer defende a desprofissionalização do PT e de suas campanhas, abrindo espaço para os militantes, como forma de recuperar a identidade e a efetividade política do partido – ainda que tal opção represente a perda de votos. Fechando o circuito, o cientista político Fabio Wanderley Reis não é tão otimista: segundo ele, “a reparação do lamentável retrocesso institucional que as proporções da crise do PT representam para o país é incerta e será no mínimo demorada, envolvendo a difícil tarefa de juntar os cacos da fusão inédita que parecia haver na trajetória petista”.

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