Por Francisco Bicudo
Eles participam de listas de discussão e usam a Internet para organizar passeatas e atos de protesto que se espalham pelos quatro cantos do mundo. Fazendo da rede mundial de computadores um grande aliado e o principal veículo de comunicação, podem ocupar as ruas de Seattle, Washington, Praga, Barcelona, São Paulo ou de Gênova. Recusam as organizações centralizadas e hierárquicas, rejeitam os rótulos, e, durante as reuniões, exigem que todas as decisões sejam tomadas por consenso, e não por votações.
Seus inimigos comuns são as grandes corporações transnacionais, as políticas neoliberais, o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o Banco Mundial. Os protestos de que participam são marcados pela descontração, bom humor, ironia e criatividade. Segundo o professor Nicolau Sevcenko, da Faculdade de História da Universidade de São Paulo (USP), representam uma nova forma de cidadania global e “não almejam a tomada do poder, mas a desintegração do poder na autonomia e na responsabilidade de cada um diante de todos e do equilíbrio da natureza”.
Nas páginas dos grandes veículos de comunicação, aparecem invariavelmente como um bando de jovens baderneiros e violentos; são punks, moicanos e encapuzados que quebram vidraças, bancos e lojas e investem contra a polícia. Sim, estamos falando dos movimentos anti-globalização. Para aqueles que desejam conhecê-los mais de perto e de maneira mais aprofundada, recomenda-se a leitura de “Guerrilha Surreal” – trabalho de conclusão de curso do jornalista José Chrispiniano que se transformou em livro-reportagem recentemente lançado pela editora Conrad. A narrativa tem como foco específico os protestos ocorridos em Praga, capital da República Tcheca, em setembro de 2000. Mas, olhando para a árvore sem perder de vista a floresta, o livro traz histórias, análises, reflexões e depoimentos que permitem desvendar o universo, os anseios e os sonhos dos grupos e pessoas que ousam desafiar a globalização neoliberal e sua “nova ordem mundial”.
Em entrevista exclusiva ao site do SINPRO-SP, Chrispiniano conta o que viu e ouviu durante aqueles dias que passou em Praga e revela: “Foi ali que eu compreendi o que significa viver em um Estado policialesco. Depois dos protestos, a vigilância e a perseguição tornaram-se ainda mais intensas. Parecia uma espécie de revanche. Eu não sabia se seria preso, se conseguiria voltar para casa. Talvez a maior parte da juventude das grandes cidades brasileiras já tenha passado por essa situação. Mas, para mim, era uma sensação completamente desconhecida”.