Por Francisco Bicudo
Os sinais que chegam do front dão conta de uma guerra que pode estourar a qualquer momento. Apesar de todos os protestos nos mais diversos países do globo, das posições contrárias de França, Alemanha, China e Rússia, e do “não” do Parlamento da Turquia ao desejo norte-americano de usar o país islâmico como uma de suas bases para as operações bélicas, Estados Unidos e Inglaterra pressionam o Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) a aprovar uma resolução que legitime a invasão do Iraque – e garantem que ela ocorrerá com ou sem autorização.
Colin Powell, secretário de Estado dos EUA, pede aos jornalistas ocidentais e aliados que abandonem a região aonde o conflito será travado. Para o Golfo Pérsico, foram deslocados cerca de 210 mil soldados, sendo cerca de 165 mil norte-americanos e aproximadamente 45 mil britânicos. No final de semana do Carnaval, foi divulgada pelo jornal inglês The Observer – mas passou quase em branco, sem maiores alardes, desdobramentos, investigações ou apurações –, a informação de que órgãos de segurança e de inteligência dos EUA teriam grampeado telefones e interceptado e-mails de membros do Conselho de Segurança, monitorando os passos e posições que teriam adotado em relação à nova resolução apresentada.
Sustentada pelo discurso anglo-americano de “defesa das democracias e combate às tiranias e ditaduras”, que convence parcelas cada vez menores das populações, inclusive dentro dos Estados Unidos e da Inglaterra, a guerra iminente esconde outras lógicas e motivações – e é preciso trazê-las à tona e refletir sobre cada uma delas. O conflito parece de fato ter como seu mote principal – embora camuflado – o controle sobre as reservas de petróleo do Iraque, segundo maior produtor mundial (são 2,5 milhões de barris por dia, número que fica atrás apenas da Arábia Saudita), e que, segundo especialistas, deve ser capaz de produzir o ouro negro por mais de cem anos – nos EUA, acredita-se que essa capacidade se esgotará em menos de vinte anos. É preciso lembrar ainda os laços e relações que o presidente George W. Bush mantém com as companhias petrolíferas norte-americanas, um dos pilares ideológicos e financeiros de sustentação do atual governo e de seus projetos militaristas e expansionistas, assim como já tinham sido um dos mais entusiastas apoiadores de Bush filho durante a campanha presidencial. A partilha do pós-guerra parece inclusive já ter começado.
“O governo Bush é um condomínio entre vários grandes consórcios econômicos, dos quais os fundamentais são o petróleo e a indústria bélica, como comprova o currículo de vários membros do governo – a começar pelo presidente e pelo vice –, que trabalharam e/ou continuam a ter interesses nesses setores”, analisa o sociólogo Emir Sader, em texto veiculado pelo site da agência “Carta Maior” (www.agenciacartamaior.com.br). “Se Saddam Hussein for derrubado, é bastante provável que os EUA criem um governo provisório no país que favoreceria as companhias americanas e britânicas na exploração do petróleo do Iraque”, completa o jornalista Alcino Leite Neto, em artigo publicado pela edição de 1º de março da Folha de S. Paulo.