Ao lado das chamadas doenças emergentes ou da modernidade, reaparecem problemas que, acreditava-se, estariam controlados ou erradicados: cólera, febre amarela, leishmaniose e dengue são alguns exemplos clássicos de uma sociedade que discute a clonagem e a terapia gênica, mas ainda não foi capaz de virar a página de situações vividas em séculos remotos. A cada ano, as infecções respiratórias matam quatro milhões de pessoas; no caso das diarréias, são dois milhões de vítimas. A tuberculose é responsável por um milhão e meio de óbitos anuais, enquanto a malária mata pouco mais de um milhão. Atualmente, especialistas e pesquisadores debatem a possibilidade de uma nova pandemia de gripe, em virtude de uma nova série de vírus, mais resistentes, que estão aparecendo. O problema também não é recente – entre 1918 e 1919, a chamada gripe espanhola matou mais de vinte milhões de pessoas em todo mundo.
É verdade que as epidemias – e mais tarde as pandemias – não representam um fato novo na história da humanidade. Elas passaram a acompanhar o homem de maneira mais próxima no exato momento da formação das comunidades primitivas que se dedicavam à agricultura. Entre 484 e 420 AC, a peste de Xerxes – uma forte diarréia – praticamente dizimou o exército persa. Em 543 DC, a peste de Justiniano, problema parecido com a peste bubônica, atingiu o já decadente Império Romano do Oriente. Durante a Idade Média, principalmente no século XIV, situação semelhante voltou a tomar conta da Europa. Também conhecida como “peste negra”, transmitida por roedores e responsável pela inflamação dos gânglios linfáticos, dores de cabeça, vertigens, febres de 40º e delírios, a peste bubônica matou cerca de ¼ da população do continente – aproximadamente 25 milhões de pessoas. As grandes navegações dos séculos XV e XVI foram responsáveis por espalhar doenças como varíola, tifo, sífilis, gripe e sarampo. Até o final do século XIX, acreditava-se que todas elas fossem transmitidas por gases envenenados emitidos por ambientes insalubres – era a chamada teoria miasmática. As descobertas do químico e biólogo francês Louis Pasteur, feitas nas décadas de 1850 e 1860, revolucionaram a área ao rechaçar a tese da geração espontânea e demonstrar que as moléstias estavam associadas à ação nociva de microrganismos como bactérias e vírus. Outra contribuição fundamental foi dada pelo cientista inglês Alexander Fleming, que, em 1928, descobriu a penicilina, matéria-prima utilizada na fabricação dos remédios antibióticos.