Embora mais otimista, e achando que há boas perspectivas para a continuidade do crescimento do cinema nacional, Alain Fresnot, autor de filmes como “Ed Mort” e “Lua de Cristal”, concorda que o momento é de indefinições. Para ele, no entanto, essa situação não chega a representar grande novidade, pois o segmento sempre foi obrigado a conviver com os altos e baixos, as idas e vindas e as dúvidas constantes. “Não está sendo diferente”, confirma. Fresnot lembra que, em 2003, os filmes brasileiros já representam cerca de 15% de todos os ingressos vendidos, nas diversas salas de exibição do país.
Mas, segundo ele, ainda estamos longe de alcançar os 35% de bilheteria atingidos no final da década de 70 e início dos 80. Campeões recentes de audiência, “Carandiru” (pouco mais de 4 milhões de espectadores) e “Cidade de Deus” (três milhões) ficaram bem longe do público alcançado por “Dona Flor e seus Dois Maridos”, o maior sucesso da história do cinema nacional, com mais de 11 milhões de ingressos vendidos. “Há um longo caminho até que se possa chegar novamente àqueles níveis”, destaca Fresnot. Para o diretor de “Desmundo”, filme ainda em cartaz nos cinemas paulistanos, e que conta a história da chegada ao Brasil colônia, em 1570, de um grupo de jovens órfãs que devem se casar com portugueses para evitar a miscigenação, “o que nós precisamos é manter o atual volume de produções independentes. Nesse sentido, o apoio do Estado é fundamental”.
As razões da falta de investimento? Nanni diz que essa é uma pergunta difícil de ser respondida, mas arrisca apontar as baterias para a crise econômica vivida pelo país, que fez parar diversas produções artísticas. O cenário de estagnação provoca um recuo das empresas estatais, principais fontes de recursos para a área artística. Restaria o setor privado que, segundo Nanni, não pretende manter muita proximidade com o cinema. A mudança de governo e as indefinições em relação ao destino da ANCINE também têm atrasado possíveis financiamentos. Criada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 06 de setembro de 2001, por meio da Medida Provisória 2228-1, e regulamentada de fato no final do ano passado, a Agência Nacional de Cinema estava até então ligada ao Ministério da Casa Civil.
O órgão, no entanto, era disputado por outros dois ministérios: o da Cultura e o do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Em sua maioria, os cineastas paulistas, segundo Nanni, preferiam que ela ficasse sob a responsabilidade da segunda pasta. “Cinema é uma arte. Mas, hoje em dia, é acima de tudo uma indústria, e deve ser tratado como tal”, justifica. Mas essa posição não era consensual entre os cineastas de todo país. A balança, no final das contas, parece ter pendido para o outro lado e, salvo mudanças de última hora, recentes matérias publicadas pela grande imprensa indicavam que a ANCINE deverá em breve estar sob a batuta do ministro Gilberto Gil. “Estamos de mãos atadas. Enquanto a polêmica não se resolve, fica muito mais difícil captar financiamentos oficiais”, afirma Nanni.