Mesmo com a necessidade de acionar a luz de alerta, o atual cenário está bem distante da penúria vivida pelo cinema brasileiro no início dos anos 90, logo depois da deliberada política de “terra arrasada” promovida pelo então presidente Fernando Collor de Mello. A extinção da Embrafilme, e a ausência de qualquer pensamento estratégico para a área, criaram sérios obstáculos aos investimentos. O cinema nacional hibernou durante quase cinco anos. A chamada fase da “retomada” só começou a ser vivida a partir de 1994, com o lançamento de filmes como “Lamarca”, “Sábado”, “Terra Estrangeira” e “Carlota Joaquina”. Esse renascimento só tornou-se possível por conta das novas leis de incentivo fiscal, como a Lei do Audiovisual (nº 8685, de 20 de julho de 1993). Ela regulamenta o fomento às atividades do setor. “As empresas, especialmente as estatais, investem justamente porque contam com a possibilidade de abatimento nos impostos”, confirma Nanni. “Faltam investimentos diretos. Em qualquer outro país do mundo, o cinema recebe apoio e verbas dos governos”, completa.
Apesar de admitir a importância das novas formas de financiamento – “sem dinheiro, não há filmes” –, Nanni destaca ainda o talento e a persistência dos diretores nacionais como outros dos fatores capazes de explicar a reversão da crise e a euforia atual vivida pelo cinema brasileiro. Segundo ele, jovens cineastas conseguiram finalizar obras de grande qualidade, com custos bastante baixos. “Há uma renovação no jeito brasileiro de fazer cinema”, ressalta. Para Alain Fresnot, a pressão da categoria foi fundamental para mostrar que o segmento não poderia morrer. Ele diz que o Brasil não pode abrir mão de uma cinematografia própria e completa – “há ainda muitas histórias a resgatar e contar”. E garante: “Já mostramos que sabemos fazer. E estamos aos poucos derrubando aquele mito elitista que diz que ‘tudo que é bom vem de fora’”.