Decididos a se dedicar especificamente aos dossiês produzidos pelo Deops entre 1940 e 1983, os pesquisadores tiveram que se debruçar sobre mais de dois milhões de documentos, distribuídos por 9.636 pastas. Além de graves problemas em relação ao estado de conservação do material – havia papéis que estavam “caindo aos pedaços” –, eles enfrentaram ainda um outro grande desafio: as pastas eram identificadas e catalogadas por códigos de quatro elementos, formados por letras e números. Como ressalta Maria Aparecida, a repressão usava uma linguagem cifrada.
Foi preciso, assim, fazer o caminho inverso e desenvolver uma metodologia que permitisse, em primeiro lugar, compreender essa lógica de sistematização, para depois desmontar essa armadilha e começar a reorganizar todo o material.
A historiadora conta que havia muitas pastas, por exemplo, identificadas com o código 50Z9. Foi preciso pegar e abrir cada uma delas, ver qual era o assunto de que tratavam, as pessoas que acompanhavam, quais eram os pontos e temas comuns, para então estabelecer as relações e conexões e montar o quebra-cabeças. “Por outro lado, havia códigos que apareciam em uma única pasta. Por aí você imagina a carga de trabalho que tivemos...”, destaca.
Aos poucos, os segredos foram sendo desvendados, e o labirinto, desfeito. Hoje, quem vai ao Arquivo do Estado para consultar os documentos já pode fazê-lo por meio de computadores e de infra-estrutura material adequada. Além disso, boa parte dos documentos foi microfilmada. Tudo funciona como nas melhores bibliotecas: “Quem digitar ‘sindicalistas metalúrgicos entre 1950 e 1956’ terá acesso a todo o material sobre o assunto, com a indicação das pastas e dos links onde se encontram os documentos”, explica Maria Aparecida.