Em 1o de julho, o plano que consolidou o projeto neoliberal no Brasil completa uma década. Há o que comemorar?
Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
O dia era 1o. O mês era julho. O ano, 1994. Nesse dia, há quase 10 anos, o Brasil acordava sob o signo de uma nova moeda: o Real. Expoente mais visível de todo um projeto e sistema econômico e monetário, o Plano Real começara a ser construído ainda no ano anterior, em 1993, durante o governo do presidente Itamar Franco. O então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, chefiava a equipe econômica que, em março de 93, instituiu a Unidade Real de Valor. A URV diariamente indicava valor do cruzeiro/real em relação ao dólar, fazendo com que, aos poucos, a nova moeda deixasse de ser contaminada pela memória inflacionária, preparando, durante quatro meses, os brasileiros para a chegada do novo sistema e realidade.
Contudo, mais do que rebatizar o dinheiro, o Plano Real, como proposta mais ampla, reforçou e expandiu a política neoliberal de estabilização da economia, nascida ainda no governo Collor. Para tanto, fez uso intenso e consolidou a prática de ferramentas e políticas públicas como abertura do mercado, liberalização do capital, câmbio supervalorizado, privatização de empresas estatais, desregulamentação e livre negociação salarial. O resultado mais lembrado e comentado de todas essas medidas é a queda imediata da inflação. Naquele ano de 94, o índice alcançou a espantosa marca de 1200%, segundo o Departamento Intersindical de Estudos Econômicos (DIEESE). “E logo no ano seguinte a taxa baixou para 15% e, em 1996, para 8%. É uma mudança importante”, explica o diretor técnico do DIEESE, Clemente Ganz Lúcio.