O grave é que os níveis de emprego e renda nunca estiveram tão baixos. “Desde 1985, quando o DIEESE começou a fazer essa medição, a renda do brasileiro nunca esteve tão pequena. Nunca assistimos nada igual”, aponta Ganz Lúcio. É verdade que, no primeiro momento do Plano Real, o trabalhador teve um aumento de rendimentos, porque a inflação teve uma queda abrupta; mas, a partir daí, o que se assistiu foram sucessivas quedas nos ganhos, aumento no desemprego e conseqüências vindas desses fatores, como a exclusão social, a miséria e a taxa de violência crescente. Por isso, Plínio de Arruda Sampaio Filho não teme dizer que o modelo de política econômica representado pelo aniversariante Plano Real “é um sistema anti-social e anti-nacional”. Anti-social porque eleva o desemprego, coloca 40% da força de trabalho, segundo dados da própria Unicamp, em situação precária, acaba com as políticas sociais e aumenta os impostos, destinando o que foi arrecadado a mais para amortização dos juros das dívidas interna e externa. E anti-nacional porque o Estado deixa de controlar algumas áreas que deveriam estar sob sua tutela, como o câmbio e a taxa de juros.
A própria indústria, uma das bases de sustentação de qualquer economia, sofreu alterações que não voltarão atrás. Por exemplo, os postos de trabalho. “O nível de trabalho e produção podem até retornar ao que eram antes, mas isso não aumentar uma vaga sequer. O Brasil tem hoje apenas 1/3 dos postos que tinha há 10 anos”, completa o diretor técnico do DIEESE. Lembrando que o nível de emprego industrial é sempre citado quando se trata de economia, porque ele é o que melhor remunera seu ocupante. Com o fechamento dessas vagas nas indústrias, houve uma migração de trabalhadores do setor secundário para o terciário, constituído basicamente pelo comércio. Só que esse setor não paga tão bem e tem taxas de precarização do trabalho mais elevadas. Ou seja, não registra, não cumpre direitos, etc. Resultado: além de menos postos, os que sobram são de menor qualidade.
Outro dado alarmante. Nos dez anos de Plano Real, embora a indústria tenha atravessado uma crise importante, verificamos dois anos de queda da produção, um ano de empate e sete anos de crescimento na produção industrial. É verdade que a indústria de exportação teve melhores resultados frente à indústria de consumo no mercado interno nesse período, mas, apesar de todas as dificuldades, o dinheiro continuou entrando. A rentabilidade dos empresários pode não ter sido a mesma, mas continuou se expandindo. O que deixou de acontecer foi o repasse desses valores para os trabalhadores.