O grande problema, apontam os especialistas, foi que, desde a implantação do Plano Real, houve uma distorção no debate político brasileiro, que se tornou mais nebuloso, difuso, difícil de ser enfrentado. “Não houve resistência ao que estava se implantando. Mesmo quem era contra a privatização e a flexibilização de direitos não conseguia colocar de maneira clara e consistente seus argumentos e, pior, nunca apresentou outra alternativa”, reflete Plínio. Naquele momento, as correntes ideológicas mais significativas do país aceitaram as condições do neoliberalismo, fosse para implantá-lo ou para criticá-lo. “Mesmo a oposição, ou mesmo o Partido dos Trabalhadores faziam uma oposição pontual, enquadrada, como se não houvesse outro caminho se não o neoliberal”, explica.
O resultado é que, enquanto o Plano Real reinava absoluto e o governo ia dia-a-dia apresentando a agenda do neoliberalismo, a oposição não construiu nada, nenhuma agenda alternativa. Daí porque o paradoxo de um governo dito popular – portanto em oposição ao anterior – seguir a mesma linha econômica da outra gestão. O governo de Luis Inácio Lula da Silva – a esperança era essa – deveria marcar uma mudança considerável nos rumos da política econômica ditados pelo Plano Real, a maior bandeira do governo que o antecedeu. No entanto, o que se viu foi um aprofundamento da cartilha neoliberal, em termos macroeconômicos. O Plano deixa oficialmente de ser citado, mas sua cantilena e seus desdobramentos continuam se manifestando no cotidiano da população. “A conseqüência mais grave de todas é a continuidade do neoliberalismo, com um agravante: a falta de oposição”, completa o professor do Instituto de Economia da Unicamp.