Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Embora 14 partidos, dos 30 que possuem registros oficiais, tenham conquistado prefeituras nas últimas eleições municipais, disputadas em 03 e 31 de outubro, o traço mais marcante da disputa foi, sem dúvida, a polarização do jogo político brasileiro entre tucanos e petistas. Longe de representar a reprodução de um possível bipartidarismo, como o que se manifesta nos Estados Unidos – muito embora essa tese apareça como um dos cenários futuros considerados pelos analistas –, o embate de forças parece estar mais relacionado a um movimento de equilíbrio, que aponta para o centro. De um lado, o PT – com sua organização partidária, sua militância, e a força do atual governo federal – emergeria com uma proposta de centro-esquerda, abandonando inclusive teses que historicamente estiveram associadas ao partido. Na outra ponta, ocupando a centro-direita, estaria o PSDB, que durante oito anos foi o principal pilar de sustentação do governo de Fernando Henrique Cardoso – responsável pelo desembarque de fato das teses neoliberais no Brasil –, que é atualmente sustentado por uma série de importantes governos estaduais, como São Paulo e Minas Gerais. Em alguns momentos, as proximidades e afinidades políticas e administrativas entre os dois partidos – o atual modelo econômico, por exemplo – seriam inclusive mais fortes do que as divergências.
O eleitorado parece estar respondendo em sintonia ao fenômeno, e não se mostra disposto a oferecer grandes vantagens a um ou a outro. Nessas eleições, o PT passou de 187 para 413 prefeituras, sendo que administrava oito capitais, e agora são nove. O partido colecionou vitórias significativas, como em Fortaleza, onde a prefeita eleita Luizianne Lins venceu mesmo contra a vontade da cúpula partidária e do governo federal, que preferiu apostar todas as suas fichas no candidato Inácio Arruda (PC do B), derrotado já no primeiro turno. Ao mesmo tempo, além de São Paulo, acabou derrotado em Porto Alegre, uma de suas principais vitrines políticas e administrativas, e que há 16 anos vinha sendo governada pelo partido. O articulista Elio Gaspari escreveu na Folha de S. Paulo de 03 de novembro que o PT “perdeu a maior prefeitura do país (São Paulo), o mais antigo reduto petista (Porto Alegre) e conheceu a maior vitória da militância das bandeiras vermelhas (Fortaleza). Perder vitória é coisa de craque. Dirceu e Genoino conseguiram”. Para ele, “a nação petista precisa entender o resultado da periferia de São Paulo, onde chegou a vencer os tucanos por três votos contra um. Ou Lula e seu governo acordam ou serão moídos em 2006. A derrota do PT nada teve a ver com estratégias eleitorais ou bases de apoio. O PT apanhou porque ficou ruim de serviço. Seu problema está na cúpula, não na base”.