Por Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Foram quase dez anos de negociações, polêmicas e muitas discussões desencontradas, mas parece que finalmente as idéias e boas intenções vão agora sair do papel e se transformar em realidade concreta. Salvo reviravoltas de última hora, entra em vigor, a partir de 16 de fevereiro de 2005, o Protocolo de Kyoto. O acordo internacional propõe que, entre 2008 e 2012, os países do mundo consigam reduzir em 5,2% a emissão global de gás carbônico para a atmosfera. Parece pouco, mas esse número já significaria “uma freada no ritmo alucinante de aquecimento da Terra”, explica o coordenador de projetos da ONG Instituto Ecoar para a Cidadania, Eduardo Quartin.
Foi pensando no aquecimento global e nas dramáticas mudanças climáticas que a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs, em 1992, uma resolução que tratava da emissão de gases para o ar, procurando zelar pela natureza e pela qualidade de vida do planeta. O professor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP), Luiz Gylvan Meira, foi um dos redatores do documento oficial, apresentado inicialmente em conferência realizada em Kyoto, no Japão, em 1997. De acordo com a proposta, 55% dos países emissores de carbono, que deveriam responder, juntos, por pelo menos 55% da emissão do gás, teriam de assinar e ratificar o Protocolo para que ele pudesse entrar em vigor. “E isso acaba de acontecer”, comemora. “A Rússia finalmente ratificou e, em 16 de fevereiro próximo, o Protocolo entra em vigor”.
O tratado internacional de Kyoto propõe a estabilização na emissão de gases que provocam o efeito estufa – uma espécie de escudo que paira sobre a atmosfera e que impede a saída do calor, provocando sensíveis alterações no clima da Terra, como ondas de calor e chuvas em épocas não previstas. O efeito estufa também ajuda a derreter a calota polar e a alterar correntes marítimas. Um dos maiores responsáveis por esse fenômeno é o dióxido de carbono (CO2), popularmente conhecido como gás carbônico. A presença dessa substância no ar sempre existiu. O problema começa com o advento do capitalismo industrial, no século XIX. É a partir da Revolução Industrial que se começa a queimar carvão mineral para obter energia e fazer funcionar as máquinas. As florestas são devastadas para dar lugar a pastos e a novas cidades, que surgem de maneira desordenada. Os meios de transportes passam a ser movidos por combustíveis fósseis, como o petróleo. Todas essas atividades liberam dióxido de carbono. “Até aquela época, a taxa de emissão medida era de 280 partes por milhão. Atualmente, já atingimos 370 partes por milhão, e esse número continua subindo”, alerta o professor do IEA. “Então não é a emissão natural de carbono que causa danos à atmosfera e ao clima. É a emissão humana”, completa o coordenador do Ecoar.