Esse conceito de administração condominial choca-se diretamente com a ausência mais importante entre os signatários do Protocolo de Kyoto, os Estados Unidos. Não por acaso, “o país é o maior emissor do mundo de gás carbônico”, aponta Quartin, e, segundo a leitura feita pelo governo Bush, reestruturar o modo de produção e de consumo para o país mais rico do mundo seria impensável. Por isso, o governo norte-americano decidiu solenemente ignorar o acordo. Também a Austrália não ratificou o tratado, “mas sua participação é pequena, não chega a fazer tanta diferença”, diz o professor do IEA. A situação dos EUA não é confortável. “Internamente, o governo tem sofrido grandes pressões, como a dos cientistas, que acusam o Estado de irresponsável”, conta Meira. Além disso, “alguns estados, como a Califórnia, já vêm fazendo acordos paralelos pelos créditos de carbono”, destaca Quartin.
E aqui chegamos ao ponto nevrálgico da questão da emissão de carbono. Segundo o Protocolo de Kyoto, haverá um número máximo de unidades de carbono por milhão. E esse valor é global. Ou seja, juntos, todos os países signatários só podem colocar na atmosfera um valor único. Se esse valor for de, aproximadamente, 350 partes por milhão – como prevê o pacto para 2010 –, o mundo todo deve se responsabilizar por somar isso e não ultrapassar esse limite. Mas há espaço e flexibilidade para algumas manobras. Suponhamos que o Brasil tenha direito a 100, e a Rússia também, mas, ao final do período estabelecido, o Brasil cumpriu 98, e a Rússia 102. O país europeu poderia comprar créditos de carbono do brasileiro (nesse caso, dois créditos) e, no fim das contas, a soma seria a mesma, respeitando o teto imposto.
Isso significa que quem emite menos carbono do que o permitido tem direito de vender esse saldo. “Vende em dinheiro mesmo. É o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que é o que de fato interessa ao Brasil”, propõe Quartin. Ou seja: como emitimos pouco gás carbônico, venderemos cotas e, “além de movimentar a economia, vamos trazer benefícios ambientais e sociais”, deseja o coordenador do Ecoar.