Por Francisco Bicudo
Eles foram chegando aos poucos e, na tentativa de conquistar a confiança da população nativa, dedicavam-se a tarefas como assistência médica e educação escolar. O objetivo dos “paulistas” – como eram conhecidos –, no entanto, era bem mais ambicioso. Inspirados pelos movimentos libertários da época, eles queriam fazer a revolução socialista e derrubar a ditadura militar que havia se instalado no Brasil em 1964.
Conseguiram reunir, na região do Brasil central, em uma área localizada entre os estados do Pará e de Goiás e conhecida por seus conflitos de terra, cerca de 70 guerrilheiros, todos eles militantes do Partido Comunista do Brasil (PC do B), que defendia a luta rural como forma de confrontar o regime autoritário.
Entre os anos de 1967 e 1974, o movimento, conhecido como Guerrilha do Araguaia, desafiou os generais e coronéis, que se viram obrigados a mobilizar cerca de 20 mil homens para combater a guerrilha – a maior movimentação de tropas brasileiras depois da II Guerra Mundial. Depois de três ferozes campanhas, a guerrilha viu-se aniquilada – a repressão foi cruel, com prisões, torturas e desaparecimentos. Até hoje, não se conhece o paradeiro dos corpos da maioria dos militantes comunistas assassinados pelo Exército.São fortes os indícios de que foram queimados, para não deixar registros.
Os arquivos da ditadura, que poderiam jogar luzes e esclarecer o episódio, permanecem fechados, inacessíveis. A falta de informações faz com que esse episódio da história brasileira continue a ser conhecido por poucos.
Se depender da vontade e do empenho do jornalista e diretor de cinema Ronaldo Duque, porém, a tendência é que essa lógica comece a ser revertida muito em breve. No centro histórico de Belém, capital do estado do Pará, e também em Marituba, a 50 quilômetros de carro da capital paraense, ele já está filmando as cenas e episódios que farão parte do longa-metragem “Conspiração do Silêncio”, filme que deve chegar às salas de cinema nacionais no primeiro semestre do ano que vem.