Para escrevê-lo, Duque baseou-se em extensa pesquisa de campo e em conversas e entrevistas com militantes, soldados e outros oficiais do Exército. O acesso aos arquivos do Exército não foi permitido, apesar dos apelos insistentes. Mas, às mãos do cineasta, chegaram documentos sigilosos da primeira e da segunda campanha de aniquilamento promovidas pela ditadura. De onde vieram? “Foi gente anônima, coisas que a gente recebeu sem saber ao certo quem mandou”, garante o diretor.
O trabalho de garimpar as informações e mergulhar na pesquisa não foi fácil. “À boca pequena”, os habitantes que atualmente vivem na região contavam as histórias da presença dos paulistas, os “tempos de confusão”, a chegada do Exército, os sumiços, “muita gente apanhou”, diziam; “outros foram queimados com pneus”, completavam. Quando as câmeras eram ligadas, no entanto, na tentativa de gravar os depoimentos, a situação era bem outra – e a conspiração do silêncio falava mais alto.
“O problema é que a população continua amedrontada, pois a presença de órgãos de repressão e inteligência ainda é evidente naquela região”, explica Duque. Em outubro do ano passado, quando esteve no Araguaia acompanhando os trabalhos da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e apurando dados para seu filme, ele teve a companhia constante de helicópteros oficiais, cujos vôos e manobras deixavam os habitantes enlouquecidos. Quando estavam saindo de lá, ao término dos trabalhos, ainda puderam ver uma maciça mobilização e movimentação de tropas militares, que fecharam estradas e mudaram a rotina das cidades. “É uma maneira explícita deles dizerem ao povo: ‘ainda estamos aqui’”, esclarece o jornalista e autor do filme.