Você que viu e viveu de perto: como vive, hoje, o povo palestino?
O povo palestino vive sob violência, humilhação, e um medo cotidiano. Para entrar ou sair das cidades controladas pela ANP, precisam passar por postos de fronteira. Ali, em fila, devem esperar a “boa vontade” dos soldados israelenses, armados até os dentes, para serem revistados. É um povo que vive sob o peso da bota inimiga, dia e noite. Um povo que teve sua terra ocupada e tenta, de maneira desesperada, resistir. É um povo que tem como vizinho de casa um inimigo. Um inimigo poderoso que tem pátria, governo, direitos e uma vida política. E eles, que coisa tem? Parte do povo palestino usa o terrorismo para ser vista e ouvida.
Os massacres e destruição nos campos de refugiados tiveram mesmo a dimensão denunciada pelos palestinos? É possível estimar o número de mortos?
Não me interessa saber se em Jenin, por exemplo, morreram 500 pessoas ou 493… não podemos resumir aquela tragédia a uma discussão estatística. Nas cidades ocupadas houve um massacre, houve um terrorismo de Estado. Milhares de palestinos foram assassinados, e é isso que conta. Milhares de seres humanos foram mortos pela máquina da guerra. Não tenho dúvidas de que a tragédia foi muito maior, muito mais profunda, mais terrível do que os meios de comunicação noticiaram.
Yasser Arafat ainda é uma liderança forte? Tem controle sobre o que restou do aparelho institucional palestino? Ou ele enfrenta possíveis focos de insatisfação, estimulados por Israel?
Arafat, Prêmio Nobel da Paz , cujo nome é Mohammed Abdel-Raouf Arafat al Quadra al-Hussein, nasceu no Egito, no Cairo, em 24 agosto 1929. Teve e tem como projeto político o Estado Palestino. Nesse sentido é um político derrotado, porque não conseguiu atingir o que buscava. Mas teve a capacidade e a habilidade de dar voz e visibilidade mundial à causa palestina. Conseguiu, durante muito tempo, agrupar forças divergentes para uma causa comum. Mas nos últimos anos, penso, vem perdendo apoio e credibilidade do seu povo. A recente operação militar isarelense “Escudo Defensivo”, que o deixou por mais de um mês refém em seu próprio quartel, serviu, nesse sentido, para fortalecer a sua liderança. Os especialistas apontam o líder da Fatah, Marwan Barghuti, como o possível sucessor de Arafat. Ao menos essa era a idéia corrente até o dia 15 de abril, quando Barghuti foi preso pelo exército de Israel, com a acusação, sem provas, de que este era líder da Brigada dos Mártires da Al Aqsa.