Para jogar luzes sobre a crise venezuelana, é preciso buscar ajuda da História. E ela nos conta que, em fevereiro de 1992, o coronel Hugo Chávez Frias comandou a tentativa de um golpe de Estado que tentou tirar do Palácio de Miraflores, sede oficial do governo venezuelano, o então presidente Carlos Andrés Perez. Chávez fracassou – mas encontrou na derrota a possibilidade de tornar-se uma liderança popular e carismática. Com cuidado, pavimentou e construiu seu caminho. Seis anos depois, em 1998, respeitando as regras do jogo democrático, foi eleito presidente da República, com apoio maciço da população, principalmente das camadas populares e dos mais pobres. À frente do partido que criara – o “Movimento V República” –, e inspirado pelos ideais de Simon Bolívar, o libertador da América Latina, prometia promover uma “revolução pacífica e democrática”. Nascia ali um foco de rebeldia que não poderia ser tolerado pelas elites venezuelanas e nem pelo capitalismo financeiro globalizado.
Logo no início de seu mandato, Chávez convocou um referendo para deliberar sobre uma nova Constituição, que acabou sendo aprovada por 71% dos eleitores. Ela alterava de maneira significativa as estruturas jurídicas e políticas do país, mudando inclusive seu nome para República Bolivariana da Venezuela. O presidente passou a defender de maneira enfática a reforma agrária, a manutenção das empresas nacionais petrolíferas e a prática de uma política de preços e de exportação mais independente e autônoma, a inclusão dos setores marginalizados na vida econômica, social, política e cultural do país, os direitos humanos e da cidadania, e a articulação de blocos de países do chamado terceiro mundo. Combatia, simultaneamente, os privilégios de uma elite reacionária e conservadora. Na concepção de Chávez, essa cruzada representaria uma nova etapa das lutas libertárias estabelecidas ao longo da história pelos povos latino-americanos. Desta feita, estariam enfrentando as políticas de exclusão impostas pelo neoliberalismo e seu Consenso de Washington. E foi o nacionalismo de esquerda de Chávez o mote usado por seus adversários, internos e externos, quando a reação começou a se organizar.