No plano internacional, a Venezuela parece pagar o preço estipulado para aqueles países que ousam tentar seguir seus próprios caminhos e estimular políticas internas e externas autônomas, soberanas e independentes. A globalização do capitalismo financeiro especulativo, sob a hegemonia das companhias transnacionais e dos Estados Unidos, não prevê espaço para esse tipo de inserção e iniciativa, de caráter nacional. Quem não segue as regras globalizantes ditadas deve ser colocado para fora do jogo – ou, de alguma maneira, ser “estimulado” a novamente se enquadrar. A reação que se articula contra o país andino segue essa lógica de raciocínio.
Com seu nacionalismo de esquerda, Chávez alinhou-se a nações como Cuba, Iraque e Líbia, todos tidos como “malditos” pelos Estados Unidos. País que detém as maiores reservas de petróleo e gás fora do Oriente Médio, a Venezuela passou a representar mais um perigoso foco de ameaça aos interesses norte-americanos, que já estariam envolvidos nos conflitos do Afeganistão e do Iraque – e teriam, a partir de então, que concentrar e dividir esforços para atuar em duas frentes de oposição, num tema e produto que é estratégico para os interesses econômicos e hegemônicos dos EUA: o ouro negro chamado petróleo. Some-se a isso o fato de que a Venezuela começou a manifestar publicamente sua contrariedade e insatisfação em relação ao projeto da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas).
“Depois de 11 de setembro, a atitude americana endureceu, e ninguém em Washington ficaria ‘muito infeliz’ se Chávez deixasse o governo, não apenas, decerto, porque ele se aproximara de Fidel Castro e dos chefes de governo do Iraque, Saddam Hussein, e da Líbia, Muamar Kadafi, mas também porque a Venezuela, dentro do Bloco Andino, passara a constituir o contraponto ao Brasil, na resistência à implantação da ALCA, além de se opor à intervenção na Colômbia”, escreve Luiz Alberto Moniz Bandeira, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), em artigo publicado pela revista “Espaço Acadêmico” (www.espacoacademico.com.br). “No plano internacional, o presidente adota uma política voluntarista que faz um certo sucesso. Declarou-se favoravelmente a um mundo multipolar e incentivou a articulação de dois tipos de reunião: a dos seus colegas ‘petroleiros’, reforçando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), e a da integração regional, com a promoção de um vínculo entre a Comunidade Andina das Nações (CAN) – Colômbia, Peru, Equador, Bolívia e Venezuela –, com o Mercado Comum do Sul (Mercosul)”, analisa o jornalista Pablo Aiquel, em artigo publicado pelo site do jornal “Le Monde Diplomatique”, edição brasileira (www.diplo.com.br).