“O caso venezuelano é uma das ilustrações mais claras do conflito e até mesmo da contradição entre capitalismo e democracia”, analisa o sociólogo Emir Sader, em texto publicado pelo site da Agência Carta Maior (www.agenciacartamaior.com.br). Ele continua: “A crise venezuelana é resultado de uma diferença estrutural no capitalismo, que impede que a democracia efetivamente possa se instalar: a maioria esmagadora da população pode decidir, livremente, através do voto, uma direção para o país – a revolução bolivariana de Hugo Chávez, neste caso –, porém os meios de produzir e de formar a opinião pública estão nas mãos de capitais privados, uma minoria ínfima da população. Com a significativa diferença de que nas mãos dessa minoria ínfima se encontra a capacidade de incentivar a produção ou de sabotá-la, de aumentar os investimentos ou de fazê-los fugir do país. O interesse da maioria da população se choca com o interesse dos que detêm o capital, e estes passam a ter um poder de coação e de impor crise de governabilidade”.
Resumo da ópera: o povo, soberano segundo as regras do regime democrático, pode eleger o presidente que bem entender, desde que este não se aventure, quando no poder, a tentar enfrentar os privilégios que perpetuam as injustiças e mazelas sociais, convertidas em desemprego, falta de escolas e habitação, saúde pública sucateada, exploração da mão-de-obra infantil, violência urbana e rural e tantos outros problemas que nós, brasileiros, tão bem conhecemos. A mensagem enviada pelas elites venezuelanas é clara e objetiva – e por isso mesmo assustadora: “só há um caminho possível, aquele que atende aos nossos próprios interesses. Foi, é e sempre será assim”. Recente editorial publicado pelo jornal francês “Le Monde” dá o tom exato dessa conversa e diz que a oposição venezuelana odeia Chávez porque “nunca suportaram que um oficial insignificante do povo e moreno venha perturbar o jogo de uma classe dirigente de tradição oligárquica”.