O clima de guerra civil pode ser observado também quando saltam à tona os dados sobre a violência rural. Os trabalhos da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostram que o número de pessoas assassinadas por conta de conflitos rurais caiu de 75, em 1990, para 27, em 1999, mas voltou a subir para 30 no ano 2000, chegando a 29 em 2001. É o retrato de um país que discute a globalização e a inserção no mundo da pós-modernidade, mas que ainda não conseguiu resolver, nem de maneira mínima, a questão do acesso e da distribuição de terra.
O relatório destaca que a violência no campo não acontece por acaso, mas é resultado da intensidade dos conflitos pela terra, em decorrência do modelo agrário e agrícola vigente no país. “A impunidade é um fator central a alimentar a violência no campo”, completa. Outro problema que remonta ao século XIX – e que, portanto, já deveria estar plenamente equacionado – revela as faces e estruturas arcaicas do país: segundo dados da CPT, havia, no ano de 2000, véspera do terceiro milênio, e 112 anos depois da assinatura da Lei Áurea, 2.416 pessoas submetidas a condições de trabalho escravo, entre adultos, jovens e crianças. O principal foco do problema está na região norte do país.