Por Francisco Bicudo
Caixas de leite, papéis velhos, comunicados de bancos que já não valem mais, um pedaço de isopor, restos de comida, latas de refrigerante, pilhas gastas e um copo de vidro quebrado – tudo colocado no mesmo saco. Tem o da cozinha, o do banheiro, o da área de serviço, o que sobrou de ontem – e os sacos azuis ou pretos se acumulam do lado de fora dos apartamentos. Recolhidos pelo porteiro, que passa de andar em andar, e colocados em sacos maiores, são levados para a rua, em frente ao prédio. À noite, quando se ouve o barulho característico do caminhão, que pára e acelera, e do corre-corre de gente que usa roupas verdes fosforescentes, dizendo “vai, agora segura”, fica a sensação de que a responsabilidade não é mais nossa – o lixeiro se foi, a rua está limpa e a noite continua tranqüila. Poucos são os que perguntam para onde vai aquela enorme quantidade de sacos. Mas, quando eles se vão, o problema – bem maior e mais complexo do que se imagina – está apenas começando.
Os cerca de dez milhões de habitantes da cidade de São Paulo produzem, diariamente, doze mil toneladas de lixo de toda a espécie. Quase 80% desse total correspondem a resíduos domésticos. O Rio de Janeiro, segunda maior cidade do país, produz pouco mais de sete mil toneladas. Aonde vai parar todo esse lixo? Quando não são apresentadas respostas adequadas para essa questão, o resultado se traduz na forma de lixões a céu aberto, contaminação de lençóis freáticos e rios e proliferação de insetos e animais roedores que funcionam como vetores de diversas doenças . Lixo é lixo – mas deve ser bem tratado, em locais apropriados.
Problema seguinte: a capacidade de armazenamento dos dois principais aterros sanitários paulistanos – o Bandeirantes, localizado no bairro de Perus e inaugurado em 1979, e o São João, que fica em Sapopemba, na zona leste, e opera desde 1992 – está quase esgotada. O primeiro só deve durar mais três anos; o segundo, mais cinco anos. Cada um deles recebe, a cada ano, dois milhões de toneladas de lixo.