Heródoto lança de imediato a pergunta-chave do debate – e talvez também a mais polêmica: nos casos de violência, o jovem é autor ou vítima? Soninha responde sem hesitar: vítima. Infratores ou não, crianças e adolescentes são fruto de uma sociedade que, hoje, não só aceita, como também cultua a violência. E a maior manifestação desse comportamento está na mídia. Em 1998, por exemplo, segundo dados do Ministério da Justiça, seqüestros representaram 0,001% dos crimes cometidos no Brasil, mas contabilizaram 10% do noticiário televisivo do ano. Ou seja, há uma desproporção, um exagero no que é noticiado. Cria-se uma disposição para a violência, uma sensação de que qualquer um é inimigo. “E aí as pessoas saem de casa preparadas para a guerra”, completa a jornalista.
Segundo ela, haveria ainda duas características dos meios de comunicação que também incentivariam a violência: uma mudança nas características do herói – se antes o herói era só do bem, hoje ele trapaceia, é cruel, mata se for preciso – e o endeusamento do consumo, provocando uma neurose para ter, a qualquer custo, o que é anunciado. Nas palavras de Soninha: “O estranho é que não nos conformamos quando, então, alguém mata por causa de um tênis”.