Mas, se é verdade que a mídia tem poder sobre as pessoas, Miriam Abramovai lembra que TV, rádio, jornais e afins são também apenas espelhos da sociedade – e essa sim teria uma visão negativa da juventude. Se, por um lado, a venera por sua beleza, por outro teme a meninada. “Quem nunca atravessou a rua quando viu um adolescente de bermudão e gorro se aproximando?”. Esse medo não traz nenhuma solução prática para o problema, segundo a pesquisadora, e apenas ajuda a separar ainda mais jovens e adultos e a criar o estereótipo de perigoso para quem tem menos de 20 anos.
É exatamente essa a sensação que toma conta do cotidiano da juventude da periferia. Para o escritor Ferréz, nascido e criado no Capão Redondo, bairro no extremo sul da cidade de São Paulo tido como um dos mais violentos da capital, “a juventude virou livro, filme, disco, só não virou solução”. Os manos vivem em favelas, pulando córregos e esperando alguma providência do governo, aguardando alguma salvação que nunca vem. “Pior do que não ter é a certeza de que nunca vai ter”.
A platéia se levanta para aplaudir.
Depois do silêncio, Chalita admite que faltam políticas públicas para o jovem, mas ressalta que, apesar de serem poucas, elas existem e são eficazes. E, lembrando a primeira fala de Soninha, reclama que a imprensa não noticia o que acontece de bom. “São 6 mil internos na Febem, mas são 6 milhões nas escolas. Nenhuma TV fala isso. A mídia tem poder. Ressaltar o ruim dá força à idéia de que a juventude não tem jeito”. E sugere que precisamos ter um outro olhar para o jovem. Mas não diz qual.
O debate pára para o primeiro intervalo.